Tá na net... (8,18,28)

Garotas que dizem ni
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8,18,28

Dez anos são migalhas em termos históricos, mas para o ser humano uma década é tempo pra dedéu. De repente você é um bebê banguela e careca e que só sabe chorar, mamar e fazer cocô; passada uma dezena de primaveras, você já sabe ler, escrever e, se for sortudo, até ganha uma mesada para comprar x-salada na cantina. Pense só por quantas mudanças nós não passamos em um período que dá para contar nos dedos das mãos! E vamos continuar passando por elas até a tia da foice lembrar de pôr fim na nossa existência.

Se hoje sou do jeito que sou, há dez anos eu era bem diferente. E dez anos antes disso, então, era completamente outra pessoa. Não sei como estarei no futuro, com 38 anos. Mas consigo facilmente apontar todas as distintas facetas de quase três décadas batendo cartão nesse mundo.

Com 8: Eu odiava tomar banho.
Com 18: Eu adorava tomar banho demorado.
Com 28: Eu fico preocupada com a quantidade de cabelo no ralo depois do banho.

Com 8: Eu vivia ralando o joelho no asfalto.
Com 18: Eu vivia cortando o dedo com a faca de cozinha.
Com 28: Eu vivo batendo o pé na mesa de centro da sala.

Com 8: Eu queria ser professora.
Com 18: Eu queria ser jornalista.
Com 28: Eu quero ganhar na loteria e nunca mais me preocupar com carreira.

Com 8: Eu entrava na escola às 13h da tarde.
Com 18: Eu entrava no cursinho às 7h da manhã.
Com 28: Eu me recuso a usar relógio.

Com 8: Eu queria ter uma bicicleta com cestinha.
Com 18: Eu queria ter um carro zero quilômetro.
Com 28: Eu quero que o metrô passe na cidade inteira para não ter que pegar trânsito.

Com 8: Eu só pensava em brincar.
Com 18: Eu só pensava em estudar.
Com 28: Eu só penso em parar de pensar tanto.

Com 8: Eu era craque no bambolê.
Com 18: Eu era craque nos patins.
Com 28: Eu sou craque no levantamento de garfo.

Com 8: Eu sonhava com uma viagem à Disney.
Com 18: Eu sonhava com uma viagem a Londres.
Com 28: Eu sonho com uma viagem a Júpiter, sem volta, para algumas pessoas.

Com 8: Eu fazia comida de mentirinha.
Com 18: Eu fazia miojo e ovo frito.
Com 28: Eu ligo para a pizzaria delivery.

Com 8: Eu acreditava em Papai Noel.
Com 18: Eu acreditava no E.T. de Varginha.
Com 28: Eu acredito que Zezé di Camargo & Luciano é uma arma de destruição em massa.

Com 8: Eu lia gibi da Mônica.
Com 18: Eu lia Machado de Assis, Oscar Wilde, Clarice Lispector, James Joyce, Albert Camus.
Com 28: Eu leio bula de remédio para enxaqueca.

Com 8: Eu queria saber de onde vêm os bebês.
Com 18: Eu queria saber para onde vamos depois da morte.
Com 28: Eu queria saber como faço para me ver livre de ligações de telemarketing.

Com 8: Eu tinha medo de lobisomem.
Com 18: Eu tinha medo da brincadeira do copo.
Com 28: Eu tenho medo da musiquinha do “Plantão da Globo”.

Com 8: Eu odiava que me chamassem de criança.
Com 18: Eu odiava que me chamassem de adolescente.
Com 28: Eu odeio que me chamem de tia.

Com 8: Eu via “Roque Santeiro”.
Com 18: Eu via “A Próxima Vítima”.
Com 28: Eu não vejo mais novela alguma.

Com 8: Eu queria viver como a Zelda Scott.
Com 18: Eu queria escrever como a Lygia Fagundes Telles.
Com 28: Eu queria ter o rosto da Natalie Portman.


Provavelmente eu ainda vou
querer isso com 38, 48, 58, 68...